Šostakóvič & Prokof'ev: Teatro Comunale di Bologna

Sobre o Evento

Em 1959, Shostakovich compôs o seu Primeiro Concerto para Violoncelo e Orquestra num período notavelmente curto de quarenta dias. Esta peça foi dedicada ao célebre violoncelista Mstislav Rostropovic, com quem Shostakovich partilhava um profundo entendimento que transcendia as palavras. Uma anedota do tempo em que viviam no mesmo complexo de apartamentos exemplifica esta ligação. Um dia, Shostakovich telefonou a Rostropovic e disse simplesmente: "Vem ter comigo, preciso de falar". Sem hesitar, Rostropovic correu para junto do seu amigo e encontrou‐o sentado em silêncio à mesa da cozinha. Permaneceram em silêncio durante uma hora, até que Shostakovich exclamou subitamente: "Obrigado por teres passado por cá." Esta relação profunda entre o compositor e o violoncelista lançou as bases para a apresentação do Concerto n.º 1 no final de setembro de 1959. Rostropovic, demonstrando o seu incrível talento e dedicação, memorizou todas as passagens do concerto em apenas quatro dias. A 4 de outubro, tocou o concerto na Grande Sala da Filarmónica de Leninegrado, dirigida por Evgeniy Mravinsky. Apenas dois dias depois, o concerto já tinha sido gravado num disco memorável sob a direção de Aleksandr Gauk.

Passando para uma obra diferente, a Quinta Sinfonia de Sergei Prokofiev, concluída no verão de 1944, é descrita pelo próprio compositor como "um hino ao Homem livre e feliz, às suas forças poderosas, ao seu espírito puro e nobre". Prokofiev compôs esta sinfonia em apenas um mês, enquanto residia numa casa fornecida pela União dos Compositores Soviéticos, localizada a 300 quilómetros de Moscovo. Durante a sua estadia, os colegas de Prokofiev, Khachaturian e Shostakovich, também estiveram presentes, tornando‐se os primeiros a ouvir a sinfonia na sua versão para piano. Esta sinfonia apresenta o estilo caraterístico de Prokofiev, com gestos rascantes, fragmentos lançados ao ar e humor grotesco. A sinfonia grita de forma assombrosa contra a insensatez da guerra, ao mesmo tempo que capta o sentimento de estranheza no meio do entusiasmo frenético das paradas militares. A sinfonia foi estreada a 13 de janeiro de 1945, numa Moscovo que antecipava o fim iminente do conflito. Apenas duas semanas mais tarde, o Exército Vermelho entraria em Auschwitz, expondo novas profundezas do horror.